Consumidor paga mais caro por crédito
As taxas de juros ao consumidor subiram em janeiro. Com exceção do cartão de crédito, que é a modalidade de financiamento mais cara do mercado, os empréstimos mais requisitados pelas famílias encareceram.
Segundo pesquisa da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), a taxa média mensal de juros ao consumidor passou de 6,79%, em dezembro, para 6,85% no mês passado. Este é o maior resultado desde julho, quando o percentual também foi de 6,85%.
Para o coordenador de estudos econômicos da Anefac, Miguel José Ribeiro, janeiro não será o único mês com avanço no custo dos empréstimos. Ele acredita que os efeitos das medidas de contenção de crédito adotadas pelo BC (Banco Central), que tiveram início em dezembro, continuarão por mais tempo. Sem contar a possibilidade de nova alta na Selic.
"A princípio, o BC já fez o que tinha que ser feito em relação a medidas macroprudenciais para conter o crédito. O próximo passo é subir juros", disse Ribeiro. A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), para decidir como fica a Selic, será em março.
MEDIDAS
As medidas macroprudenciais citadas pelo pesquisador tiveram o objetivo de frear a oferta de crédito. Uma delas é a elevação dos depósitos compulsórios. Portanto, o BC incrementou o percentual de dinheiro que os bancos guardam a fim de que as instituições ofereçam menos crédito.
E a segunda foi o aumento da entrada em financiamentos com prazos superiores a 24 meses aos consumidores. "O BC disse que você precisa ter poupança prévia para fazer uma compra, ou seja, uma entrada maior", explicou o professor da USP (Universidade de São Paulo) e conselheiro do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia) Manuel Enriquez Garcia, sobre a medida. Junto à Selic, estas medidas têm objetivo de conter a inflação.
Efeitos das medidas do Banco Central atingem empresas
Os consumidores não foram os únicos prejudicados pelos impactos das medidas do BC. A taxa média de juros para as empresas foi de 3,88% em janeiro, maior patamar desde setembro de 2009, quando o percentual era de 3,99%. Em dezembro, o percentual estava em 3,80%. A modalidade conta garantida - cheque especial teve o maior encarecimento, com juros de 5,33% ao mês e elevação de 0,10 ponto percentual sobre dezembro. A taxa média do capital de giro passou de 3,08% ao mês para 3,17%. E para os descontos de duplicatas, o percentual subiu de 3,08% ao mês para 3,15%. PS
Comércio tem maior alta nas taxas dos financiamentos
As taxas de juros cobradas pelos estabelecimentos comerciais tiveram a maior alta na comparação mensal entre as modalidades de crédito ao consumidor.
Conforme a pesquisa da Anefac, o custo médio dos financiamentos no comércio passou de 5,69% ao mês para 5,79%, ou seja, 0,10 ponto percentual.
E a proximidade do setor ao consumidor, junto ao maior endividamento das famílias, são motivos para que a elevação seja maior, avalia o professor Márcio Torres, que ministra aulas de pós-graduação intensiva de finanças da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
"O comércio está próximo ao cliente e não tem estrutura de cobrança tão avançada como o sistema financeiro. Ao primeiro sinal de inadimplência maior, os juros sobem", explicou Torres.
Porém ele não descarta a possibilidade do setor aproveitar o momento de alta na taxa básica Selic para elevar os seus juros. "Não vou dizer que não tem uma dose de aproveitar o aumento da Selic", frisou.
MAIS CARO
O cartão de crédito apresentou estabilidade, com taxa mensal de 10,69%, que é a maior entre as modalidades. Os empréstimos pessoais nas financeiras tiveram alta de 0,02 ponto percentual. No entanto, figuraram como o segundo crédito mais caro ao consumidor, com 9,68% ao mês.
Em seguida, o cheque especial ficou em 7,63% ao mês, contra 7,57% registrados em dezembro. Conforme o BC, as pessoas passam, em média, 22 dias com a conta no vermelho, ou seja, pagando a taxa do cheque especial.
O levantamento revela que a taxa do empréstimo pessoal de bancos subiu 0,08 ponto percentual, para 4,85% ao mês. E o CDC (Crédito Direto ao Consumidor) ficou em 2,46%, alta de 0,06 ponto percentual.
M.Pereira